Liberalização Financeira

Artigo anterior, sobre o câmbio, resultou em comentário de meu fraterno cunhado Vermelho – “Qual a solução: fixar o câmbio ou taxar violentamente a entrada de dólares?” Resposta que não é simples, mas que começo a responder neste artigo.

Como salienta o economista americano Dani Rodrick, a abertura da economia em si não devia ser estratégia de desenvolvimento, mas sim poder fazer parte do desenvolvimento. Outro economista americano H. Minsky, também da corrente não hegemônica da economia, entendia que com as inovações financeiras haveria uma tendência à unificação do mercado de capitais no mundo. No entanto, para ele, o excesso de vigor do capitalismo para acumular o levaria a crises constantes.

A liberalização financeira se constitui da expansão dos fluxos financeiros internacionais com acirramento da concorrência no mercado de capitais e integração entre os sistemas financeiros. Alguns aspectos determinantes deste processo:

– Ascensão liberal na década de 1980.

– Criação de novos instrumentos financeiros de proteção a riscos e incertezas com a multiplicação de instrumentos derivativos.

– A revolução da tecnologia da informação que possibilitou a livre movimentação de capitais.

– Mudanças globais das estratégias de investimento das empresas e dos investidores internacionais.

– Financeirização das empresas viabilizada pelas políticas econômicas efetivadas nos países centrais.

– Como a moeda não é neutra, apesar da pregação monetarista em contrário, a desregulamentação acelerada do lado monetário repercutindo no lado real, produtivo.

– A acumulação capitalista, centrada na esfera financeira, expandiu para o mundo todo a realização do capital.

O movimento de centralização do capital através de fusões e aquisições aceleradas das grandes empresas está colado ao processo de internacionalização da produção com o consequente aumento da concorrência internacional.

Pelo bem ou pelo mal, a ruptura do acordo de Bretton Woods no início da década de 1970 resultou na incapacidade dos organismos supranacionais estabelecerem normas para a atividade financeira internacional. Com a incapacidade de coordenação no âmbito público, o setor privado se apoderou dessas instituições para seus interesses específicos.

A acelerada movimentação financeira internacional desequilibra as economias nacionais, que passam a apresentar vulnerabilidades crescentes a choques externos. Estes, por sua vez, poderão desencadear um circuito contínuo de crises e ajustes perversos face aos instrumentos de ação disponíveis. Se as opções forem limitadas e com altos custos a fragilidade financeira se apresenta através de ataques especulativos, isto é, fortes oscilações no fluxo e no preço dos capitais internacionais, que são transmitidos para a economia nacional pela imposição de ajustes que impactarão o lado monetário e o lado real da economia.

Se há excesso de liquidez internacional, o aumento da entrada de capitais, implica em aumento das reservas e, por sua vez aumento da necessidade de enxugar ou esterilizar o excesso de moeda nacional utilizada para a compra de reservas, o que envolve custos adicionais, pois a remuneração das reservas, via de regra, é bem menor que o custo para o pagamento dos títulos usados para retirar o excesso de moeda do circuito econômico. Resultado: aumento da dívida pública.

Outro efeito nocivo é a valorização da moeda nacional que implica em aumento de preços dos produtos exportados e diminuição de preços dos importados. Resultado que aqui se conhece muito bem e, que nos últimos tempos, tem sido denominado processo de desindustrialização.

Antônio Carlos Roxo, coordenador e professor do curso de Comércio Exterior e Negócios Internacionais é membro fundador do Grupo de Estudos de Comércio Exterior do Unifieo – GECEU. E-mail : roxo@unifieo.br