Os três Des da Economia: Conclusão

Este texto é conclusão de publicação anterior, que tratou de duas mazelas da Economia: a dívida interna e a dependência externa, que junto com a distribuição de renda formam os três Des da Economia.

Segundo o Banco Mundial o Brasil está entre os 7 maiores países em termos de PIB, porém está nas últimas colocações quando o assunto é distribuição de renda. Dados do IPEA revelam que os 10% mais ricos da população detêm 43% da renda, os 20% mais pobres possuem 3% da renda, o que significa dizer que 70% da população possuem 54% da renda.

 

Para se entender a dramaticidade do problema, tome-se R$ 1.000,00 do PIB distribuídos por 100 pessoas. Os 10% mais ricos ficariam com R$ 430,00, com uma renda média de R$ 43,00; os 20% mais pobres com R$ 30,00, podendo cada um gastar R$1,50 e o restante da população com R$ 540,00, cada qual com R$ 7,71. Pode-se perceber que o individuo mais rico possui 28,6 vezes mais poder aquisitivo que o mais pobre e 5,6 mais que a população intermediária.

Outra forma de perceber a distribuição de renda é consultar os classificados de empregos que circulam normalmente aos domingos e observar a distância entre o menor e maior salário, chega à casa de 16 vezes.

O efeito da distribuição de renda concentrada é o baixo atendimento das necessidades devido ao baixo poder de compra. Aliado a estes efeitos está a baixa capacidade de poupar e, principalmente, a alta exposição ao risco de inadimplência.

O risco de inadimplência surge quando a população vai às compras por perceber uma elevação na sua renda conjugada com facilidades de obtenção de crédito. No momento em que sofre um abalo decorrente de uma crise externa, por exemplo, manifesta-se a dificuldade nos pagamentos das prestações. Em abril último, observou-se uma elevação de 4,8% no número de inadimplentes. A maior alta para o mês de Abril desde 2002, segundo dados da Serasa Experian.

Sob o enfoque empresarial, com a baixa capacidade de poupança e o baixo poder de compra, eleva-se o custo do capital e o mercado interno restringe-se. Além disso, percebe-se a prioridade para substituir mão de obra por tecnologia. Em inúmero setores surgem: autoatendimento, máquinas de venda, operações via internet, entre outras que demonstram o surgimento do desemprego estrutural.

Para se ter uma leve noção, a população cresceu, desde 1982, 1,6% ao ano; a população economicamente ativa, ou seja, aquela em idade e condições de trabalho expandiu-se 3,5% ao ano, passando de 26% para 38% e o nível de desemprego chegando a casa dos 6%, com tendência de elevação. Em outras palavras, não há expansão do emprego, suficiente para absorver a massa de trabalhadores, falta então recursos para financiar a previdência social que possui uma pressão de demanda significativa.

Em síntese, os três Des levam à restrição econômica em função da dívida pública que surge para financiar o déficit público e ao mesmo tempo o realimenta. A dependência externa surge pela demanda de capitais para ampliar a capacidade de investimentos, mas realimenta o déficit das transações correntes, que pressiona o crescimento das exportações acima do crescimento do PIB. A distribuição de renda limita o mercado, reduz a capacidade de poupar e amplia o risco de inadimplência.

Apesar de medidas do governo para gerar superávits nas contas públicas, para reduzir o impacto da dívida interna, e a adoção de medidas assistencialistas que diminuíram as desigualdades da distribuição de renda e aumentaram o estoque de reservas, os três Des ainda persistem e, no conjunto, limitam o crescimento e o desenvolvimento econômico.

Ricardo Maroni Neto: economista, professor do Unifieo e do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia – IFSP, autor do livro Manual de Gestão de Finanças Pessoais é membro do GECEU