O que promete liberdade: Sistema de vendas multinível.

Vivemos em um momento em que o consumo desenfreado tem moldado boa parte de nossos valores. No entanto, isso aliena boa parte da população sobre outras formas de vida que poderiam ser mais justas e sustentáveis. Antes de entrarmos no tema em questão, apresentamos uma frase pronunciada pelo o economista Victor Lebow: “Nossa economia altamente produtiva exige que façamos do consumo nosso meio de vida, que devemos converter a compra e o uso desses bens em rituais, que busquemos nossa satisfação espiritual e a satisfação do nosso ego, no consumo.” Atualmente, algumas empresas exploram este conceito através das ferramentas de marketing para incentivar o consumo e a fidelização à marca. Uma grande ferramenta que sempre renasce é o marketing multinível. Instrumento que tem criado fiéis vendedores por todo o país, através das promessas de sucesso e autonomia.

 

 

No entanto, a promessa de autonomia, não se concretiza a partir do momento em que seus representantes devem estampar a marca do produto em tudo o que lhe cerca. Algumas empresas fornecem prêmios, carros e viagens, mas já que estas empresas também não arcam com despesas trabalhistas, torna-se muito mais fácil conceder certos mimos para estimular alguns vendedores, criando uma corrida ilusória e insustentável. Infelizmente, boa parte dos que se dedicam a estas atividades não pensam no futuro, formando poupança ou um fundo de previdência, na verdade a rentabilidade algumas vezes é revertida em estoques de produtos.

 

Um ponto não mencionado no momento do recrutamento de consultores é sobre a saturação do mercado. Ela pode ocorrer de duas formas: a primeira se trata da saturação do mercado local, muitos produtos em posse dos clientes. A segunda é a saturação geral, pois é matematicamente impossível todos avançarem na carreira. Mas o mais interessante não é apenas a economia deste sistema, mas a doutrinação feita nos treinamentos conforme Lebow. A empresa e a carreira se tornam praticamente uma religião para o vendedor, isso no sentido de promover satisfação espiritual do ego, verdades absolutas e sonhos de um futuro melhor. Por este motivo, questionar tais empresas na presença de seus vendedores é assinar um termo de rompimento de relacionamento. Esse é o sistema criado para libertar as pessoas das grandes corporações, e que diz promover tempo livre com a família para fazer o que dá prazer. Mas ficam aqui algumas perguntas: como estas empresas também são grandes corporações, será que a busca pelo lucro é diferente? Qual é o conceito de tempo livre, uma vez que, não estão aprisionados em escritório, mas a marca esta colada nas almas? E o que realmente lhe dá prazer? Sendo que, agora o prazer é percorrer pelas trilhas do sucesso através de vendas e recrutamentos, não levando em conta a finitude do sistema e da vida.

Leandro Ortunes graduado em Comércio Exterior pelo UNIFIEO, mestre em Ciências Sociais (PUC-SP), especialista em Relações Internacionais (FAAP), especialista em Ciências da Religião (PUC-SP) é membro do Grupo de Estudos de Comércio Exterior do UNIFIEO-GECEU. E-mail leandroortunes@uol.com.br